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  • Foto do escritorRodrigo V Cunha

Por que ser uma empresa sustentável não é mais suficiente?

Chegamos em tal escala de destruição do planeta que apenas não gerar impactos negativos não vai conseguir

reverter esse processo. É preciso regenerar.


Em agosto de 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um

relatório afirmando que, se mantivermos os compromissos atuais com o corte

de emissões de gases de efeito estufa, o planeta deve registrar um aumento

médio de temperatura de 2,7ºC neste século. E isso está longe do ideal.


Neste cenário, a probabilidade de ocorrerem secas extremas aumenta

exponencialmente, de acordo com um relatório de 2018 do Painel

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Outra

consequência é o derretimento das geleiras polares com mais frequência,

elevando o nível da água e mudando o ecossistema marinho – que pode,

inclusive, afetar setores como a pesca e a agricultura. Além disso, também

haverá menor disponibilidade de alimentos em virtude das mudanças climáticas.


Para que isso não aconteça nessa magnitude, a ONU afirma que a temperatura

média da Terra não deve ultrapassar 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

O problema é que, de acordo com as previsões, isso já deve acontecer por volta

de 2030.


Numa escala governamental, isso significa que os compromissos atuais de

países contra o aquecimento global não são suficientes para nos tirar desse caos.

Numa escala corporativa, isso significa que apenas ser uma empresa sustentável

não basta contra os desafios impostos por décadas de uso predatório dos recursos

naturais. É preciso mais. É preciso regenerar.


Imagem: reprodução/ pixabay


Por que ser sustentável não é mais suficiente?


Pense nas ações de sustentabilidade e ESG mais comuns entre empresas. Zerar as

emissões de carbono, usar materiais recicláveis na produção, substituir insumos

"tradicionais" por orgânicos e utilizar fontes de energia limpa são alguns exemplos

bem recorrentes.


O propósito dessas ações é claro: não gerar mais impacto em um planeta já sobrecarregado.

Em uma equação, o objetivo final é que o resultado seja zero: impactos causados pela

empresa – ações de sustentabilidade = zero impacto.


Essas atitudes são, sim, extremamente importantes e necessárias, mas chegamos em

tal escala de destruição do planeta que apenas não gerar impactos negativos não vai

conseguir reverter esse processo. É necessário agir proativamente para regenerar

o que já foi destruído, resultando num saldo positivo para a terra.


Regeneração: um novo olhar para a sustentabilidade


No relatório publicado em 1987 com o nome "Nosso Futuro Comum", a ONU definiu

o desenvolvimento sustentável como aquele “que atende às necessidades do presente

sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades”.


Considerando que os compromissos atuais contra o aquecimento global já impõem

grandes desafios às gerações futuras de atender às suas próprias necessidades, é

essencial encontrar caminhos de regeneração para o planeta. Maneiras de restaurar

o que já foi perdido e deixar o planeta em condições melhores do que as atuais,

garantindo um futuro para as próximas gerações.


Mas o que é regeneração?


Segundo o ecologista americano Paul Hawken, autor do livro "Regeneration: ending

the climate crisis in one generation" (Regeneração: acabando com a crise climática

em uma geração, em tradução livre), regeneração é colocar a vida no centro de cada

ato e decisão.


Para ele, essa é uma nova abordagem que une justiça, clima, biodiversidade e dignidade

humana em um ciclo constante de ação, política e transformação que pode acabar

com a crise climática em apenas uma geração.


Pode parecer disruptivo, mas Paul defende que a regeneração é uma parte natural

das nossas vidas. As células do corpo, por exemplo, estão constantemente se

regenerando. Essa é a natureza em sua essência.


O problema é que criamos um sistema econômico extrativista e nos acostumamos

com ele. Como se o único caminho para nossa existência, por mais paradoxal que seja,

fosse o de extração de vida. A boa notícia é que não é: basta voltarmos à essência

regenerativa da natureza.


Neste modelo, defende Paul, o objetivo principal das empresas deve ser servir à

humanidade. Colocar a vida em primeiro lugar em todas as decisões e deixar todo

o resto em segundo, terceiro, décimo plano. Enxergar os negócios como parte da

natureza e de seus ciclos, não como entidades apartadas, e agir em sintonia com o

ecossistema ao redor.


Aqui vai um exemplo real


Em uma entrevista que fiz com Vincent Stanley, diretor de filosofia da fabricante de

roupas Patagonia, ele contou que a empresa iria diminuir de tamanho durante a pandemia:

50% das vendas em um ano. Por falta de condições para os funcionários trabalharem

no estoque, os armazéns da empresa e a loja online ficariam fechados. E tudo bem,

na visão dele, pois se tratava de um processo orgânico em que a vida das pessoas

era prioridade.


Em outra ocasião, os negócios foram duramente impactados ao substituir algodão

plantado com agrotóxicos por algodão orgânico. Na época, o CEO Yvon Chouinard

disse que preferia não ter uma empresa do que usar matéria-prima que faz mal para

as pessoas.


Mais recentemente, começaram a investir em alimentação no Patagonia Provisions.

Eles acreditam que a alimentação faz parte de muitas cadeias no mundo inteiro e tem

um enorme potencial regenerativo. Também são fundadores da Regenerative Organic

Alliance, criada para estimular um capitalismo regenerativo.


E sabe o que é mais curioso? Mesmo com diversas ações como essas, a empresa

nunca se definiu como sustentável, mas sim como "responsável" (o título do livro que

escreveu com o fundador da Patagonia chama-se 'Responsible Company). Nas palavras

de Vincent, "porque ninguém pode ser, somos conscientes do nosso impacto". Olhar

desta maneira para o impacto das empresas é entender o tamanho do desafio e a responsabilidade compartilhada por todas e todos.


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